Era ao som de óperas e música clássica que o artista plástico Paulo de Siqueira dava vida às suas criações. Autodidata, realizou sua primeira exposição aos 16 anos, em Passo Fundo (Rio Grande do Sul), onde viveu até a adolescência. Nada comum, sua obra transita entre a modéstia e a grandiosidade.
Atraídos pela singularidade do artista gaúcho de Soledade, que morou em Chapecó desde 1972, os realizadores audiovisuais Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt produziram o documentário biográfico “Dom Quixote das Artes” (Margot Produções, 2017), sobre a vida e obra do artista plástico. Paulo ficou reconhecido em Chapecó pelo monumento “O Desbravador”, cartão-postal da cidade, embora, tenha deixado mais de 50 esculturas gigantes no Sul do Brasil e Argentina, entre as décadas de 1970 e 1990. Tinha como matéria-prima sucata, materiais industrializados e placas de metal, que ocupam espaços públicos de muitas cidades, como Florianópolis, Joinville, Passo Fundo, São Miguel do Oeste e Porto Alegre, onde está um de seus maiores trabalhos, pesando 14 toneladas.
“A vida de Paulo era produzir arte, não importava o momento, o local, quando ele tinha algo para colocar para fora, ele extravasava”, contam os personagens entrevistados para o documentário. “O desafio foi mostrar quem era Paulo de Siqueira além do monumento ao Desbravador. O documentário foi produzido com a intenção de tornar esse artista conhecido pelo seu trabalho revolucionário à época porque utilizava um tipo de material que era desprezado, justamente por ser efêmero”, comenta Cassemiro Vitorino.
“Ordem desordenada”
De Passo Fundo a Corrientes, na Argentina, Paulete, como era carinhosamente chamado, foi um artista intenso e sonhador. “Ele acreditava, acima de tudo, no poder transformador da arte e soube lutar para que sua obra pudesse estar acessível às pessoas, acalentando o sonho de liberdade que tanto prezava”, comenta Ilka. Segundo os diretores, Paulo costumava dizer que o trabalho artístico mais espontâneo é a escultura, por ser “um desenho no espaço”. Sensível e criativo, seu olhar buscava no menos convencional o elemento de sua criação: no “ferro velho”. A genialidade de Paulo chamou atenção de outros artistas, e ele passou a ser considerado uma revelação, em razão de utilizar sucata, o que era polêmico para a época.
Quanto ao título do filme, os diretores revelam que o fascínio de Paulo pela obra de Miguel de Cervantes (que a definia como ordem desordenada) e pelos cavaleiros medievais tornou-se uma homenagem. “Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, nem utopia, é justiça”, dizia Dom Quixote de La Mancha, pensamento que ambos compartilhavam, artista e personagem. Sobretudo, Paulo sonhava e assim como Dom Quixote, amava sua vida, fazendo de suas obras o impulso para viver.
O longa-metragem levou três anos para ser concluído, entre pesquisa, produção e finalização, tamanho o volume de informações que surgiram durante o processo. Já a trilha sonora original, composta pelo músico Márcio Pazin, refina a narrativa, imprimindo a essência controversa da criação e do criador. Ao todo, foram entrevistadas 25 pessoas, entre amigos, familiares e conhecidos de Paulo. A pré-estreia de “Dom Quixote das Artes”, com entrada franca, será no dia 21, às 19h, no Cinema Arcoplex, no Shopping Pátio Chapecó. Parte da programação do Centenário de Chapecó, o filme foi produzido através do Edital Municipal de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas do Município de Chapecó e da Lei Rouanet, e tem como patrocinadores: Cooperativa de Infraestrutura e Desenvolvimento Vale do Araçá (Ceraçá), Supermercados Celeiro, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Nilo Tozzo Distribuidora, Grupo Buggio, Unimed Chapecó e Tucano Obras e Serviços.
Comentários